quarta-feira, 1 de abril de 2009

E assim falou Mielke

Abraquiocefalia turística tem cura mexa-se!!
A cada ano que passa mais um curso de graduação em turismo fecha ou padece de uma doença que se alastra pelos corredores e mentes daqueles que assistem inertes ao fato de que estamos formando muito mal os nossos jovens. A abraquiocefalia tem cura!
Desde que ensino turismo, e isso faz quase 10 anos, percebo que o número de faculdades, bem como a procura por esta profissão decresce a cada ano e as conseqüências estão ai. Mesmo tendo a geografia a nosso favor e sermos detentores de mais de metade do território, não conseguimos nem decolar como referência na atividade Latino Americana e como também não melhoramos significativamente a qualidade dos serviços turísticos prestados a quem visita uma cidade ou região a procura de experiências, emoções...
Talvez todas as expectativas criadas no final da década passada em torno d turismo com uma atividade indutora de desenvolvimento estão caindo por terra. E eu tenho um pensamento sobre o assunto que gostaria de dividir com todos.
A prática da atividade turística é algo complexo. Para o seu entendimento demanda uma vasta gama de conhecimentos nas áreas da economia, geografia, história, administração, cooperação e psicologia, para citar algumas. Até ai tudo bem, pois as faculdades normalmente têm este tipo de profissional. Ou seja, não difícil achar um professor de economia para ensinar micro ou macroeconomia. É, mas o problema está justamente aí. O que é difícil e está em falta hoje é achar professores que realmente entendam de turismo trabalhando no dia a dia da atividade e que possuam formação necessária à formação de profissionais que respondam a altura das necessidades do país.
Numa república de 180 milhões de habitantes há muito poucos doutores em turismo e destes nem todos exercem a “doutoragem”, pois filosofar é importante, mas não suficiente. Faltam mais discussão e massa cinzenta para dar suporte ao planejamento da atividade turística neste país. Não passamos de meia centena para ser otimista. E não há programas de doutorado no Brasil. Há, porém muitos doutores que tem a graduação em turismo e obtiveram a titulação em áreas afins. Mas também precisamos de mais, pois quando estes estavam na graduação tiveram aulas com professores que não estudaram turismo e assim se foi e continua indo. Não tiveram e não tem referência acadêmica suficiente. Nos livros e até nas dissertações de turismo disponíveis, poucos são os estudos de caso de sucesso que podem ser utilizado como base de trabalho. Em outras palavras, a formação foi e está sendo incompleta e os resultados estão aparecendo. Cursos fechando e os que estão abertos o fazem com cada vez menos alunos. Os turismólogos estão saindo para trabalhar em agências de viagens ou na recepção de hotéis com salários não muito motivadores nem para eles e muito menos para os que sabem disso.
Na grande maioria estamos formando alunos que não estão sendo capazes de organizar a atividade turística de forma equilibrada em um município. E se em todos estes anos (principalmente entre 2000-2003) não foi possível demonstrar a sociedade que o turismo merece maior reconhecimento...tenho medo que o bonde tenha passado. Precisamos de mais mestres e doutores de atuação prática, valendo ressaltar que os muros da academia não devem ser câmaras ocultas e inacessíveis. Precisamos de investimento em educação turística de referência senão nunca encontraremos antídoto para esta doença que nos amarga a cada anuário da OMT.
Artigo de Eduardo Mielke, Doutor em Turismo e amigo nas horas vagas.