quinta-feira, 7 de maio de 2009

Investimentos internacionais são adiados no Nordeste

A crise econômica mundial obrigou estrangeiros que investem em projetos de turismo no Nordeste a mudar o planejamento de seus negócios.

No Rio Grande do Norte e na Bahia, portugueses e espanhóis que projetam condomínios de luxo voltados a europeus decidiram agora focar também o público brasileiro.

Segundo a Adit (Associação de Desenvolvimento Imobiliário e Turístico), que reúne os empresários do setor de construção – de hotéis a construtoras, passando por imobiliárias –, a tática vem se repetindo em todos os grandes empreendimentos estrangeiros na região Nordeste.

Com isso, a crise internacional, que se agravou justamente a partir do setor imobiliário, deve retardar a ambição do setor turístico local de transformar o Nordeste do país em território de "segundas residências" de famílias de alto poder aquisitivo da Europa.

De acordo com o governo do Rio Grande do Norte, os empreendimentos turísticos no Estado devem sofrer atraso de 12 a 18 meses por conta da situação econômica mundial.

Um dos empreendimentos é o Cabo São Roque, previsto para ter mais de 1.300 casas e hotéis de luxo. O jogador inglês David Beckham, atualmente no Milan, da Itália, terá um centro de treinamento no local e veio ao Estado no ano passado para promover o projeto. A administração do resort não respondeu a e-mail da reportagem.

Outro megaempreendimento, o Grand Natal Golf, teve que fazer repentinamente um estudo sobre o cliente nacional para compensar a perda de compradores estrangeiros.

O resort, projetado para ter até 35 mil casas, é de um grupo espanhol e foi promovido pelo ator Antonio Banderas. Airton Nelson, da representação do projeto no Brasil, diz que a empresa terá dificuldades porque não conhece "100%" o público brasileiro. Devido à crise, os empreendedores desistiram de divulgar os projetos neste ano na feira imobiliária de Madri, segundo o governo potiguar.

Na Bahia, os portugueses do Reta Atlântico decidiram adiar por alguns meses o lançamento de uma das fases do resort Reserva Imbassaí, em Mata de São João (67 km de Salvador), devido a um "ambiente psicológico não favorável". Também resolveram fazer imóveis menores e mais baratos para atrair compradores brasileiros.

Segundo o português Pedro Dias, o grupo já tinha percebido o desaquecimento do mercado europeu antes de a crise se acentuar, no segundo semestre de 2008.

Os imóveis da primeira fase no Reserva Imbassaí tinham preço médio de R$ 1 milhão. Os da segunda sairão em média por R$ 200 mil.

O grupo espanhol Qualtas ainda aguarda licenças ambientais para o resort The Reef Club, em Pernambuco, e cogita adiar o lançamento. A empresa diz que precisará "avaliar as condições de mercado".

Para a economia local do Rio Grande do Norte, as dificuldades do setor frustraram a expectativa de um rápido aquecimento na construção civil e no turismo.

A ideia de implantar um voo fixo Madri-Natal também acabou adiada, diz a Secretaria do Turismo do Estado.

Para Felipe Cavalcante, presidente da Adit Nordeste, os grupos europeus vão ter dificuldade em vender seus produtos imobiliários para o consumidor local.

"O brasileiro, de maneira geral, não quer comprar uma casa a 100 km de uma capital, onde não tem nada. Ele quer ficar onde existe movimento, onde há vida noturna."

Fonte: Tribuna da Bahia