sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Assim falou Mielke

Desenvolvimento Turístico de Base comunitária e Responsabilidade Social: possibilidades e perspectivas.

Nos últimos anos é claro e notório o interesse que as corporações, sendo elas grandes médias e até mesmo pequenas têm no desenvolvimento de ações, projetos e atividades ligadas à responsabilidade social e ou ambiental. Neste rol podemos incluir desde a doação de recursos a organizações não governamentais que cuidam de alguma espécie animal e ou vegetal de interesse, até o conserto do telhado de uma creche. Não importa: a amplitude de possibilidades é imensa. O que se percebe é um aumento considerável por ações sociais que se multiplicam e assim seguirão não como uma tendência, mas, sobretudo com uma realidade presente no cotidiano de um número também crescente de empresas. Na realidade o que ocorre é uma substituição da presença em algumas ocasiões do Estado dentro da problemática social. Coincidência do destino ou não, esta ausência abre um leque de possibilidades de atitudes a serem desenvolvidas pelas pessoas jurídicas no benefício de pessoas físicas. São grandes oportunidades que residem muitas vezes em pequenas ações.

No campo turístico então, nem se fala! Pois, além da atividade possibilitar uma boa economia nos custos operacionais, representa uma excelente forma de aperfeiçoar as relações das empresas turísticas, sobretudo hotéis e resorts com as comunidades de entorno. Em outras palavras, a responsabilidade socioambiental é uma excelente ferramenta de promoção do desenvolvimento turístico de base comunitária utilizando-se da própria cadeia de valor intrínseca à atividade comercial. E isto pode ser feito de duas formas. Ou a comunidade é preparada para receber turistas ou ela se organiza para prestar serviços ou alimentos às empresas turísticas sejam eles hotéis, pousadas ou bares e restaurantes, existentes na região trabalhando na cadeia de valor.

Existem inúmeras publicações, acadêmicas ou não que mostram o ganho de valor que a empresa em si adquire ao investir em Responsabilidade Social. A experiência sinaliza que às vezes a grande diferença que existe entre corporações reside justamente nos seus princípios e conduta ética que ela transparece nas suas relações dentro e fora da “porteira”. São ganhos que muitas vezes mantém bons profissionais dentro da companhia pela satisfação em saber que o seu trabalho além de remunerá-los e proporcionar-lhes bem estar, faz sentido e traz um valor. É o algo a mais que a própria empresa presta às vezes sem saber. É um valor agregado intangível que apesar de difícil detecção está lá! Todo este ganho advém do sucesso da implementação de programas de responsabilidade social que não somente cumpram com seus objetivos contribuindo com a melhoria de algum serviço prestado à comunidade, mas que fundamentalmente estejam alinhados aos objetivos, princípios e valores que a empresa possui. A chave está nesta congruência.

No campo, é muito mais simples desenvolver ações sociais aproveitando seu know-how e partindo das fortalezas presentes no ambiente palpável de atuação da companhia. Vale sempre lembrar: poucas são coisas que são novas, mas sim, muitas que foram somente esquecidas. Para a atividade turística ainda, o envolvimento das comunidades na composição do produto turístico torna-se estratégico. Hoje, o que vale, são as experiências vividas pelo turista, que certamente se lembrará daquele artesanato que foi feito especialmente para ele, daquela visita ou daquele sorriso herdado a partir de traços culturais extraordinários. São as lembranças e sensações que ele levará para casa de uma boa estadia em um lugar onde há a presença de uma gama elementos que são únicos e pitorescos a uma determinada localidade.

Investimento em responsabilidade social no turismo sobre tudo envolvendo comunidades e ou grupos sociais não é paternalismo. Sustentabilidade social implica no investimento em capital humano comunitário na construção e manutenção das relações com o meio externo ao empreendimento turístico. Ou seja, a preocupação em desenvolver a autogestão dos projetos sociais por parte das pessoas da comunidade é fundamental. Trata-se da construção de uma responsabilidade compartilhada entre a empresa turística e comunidade, que é um processo em que se estabelecem as contrapartidas, os direitos e deveres de cada personagem. É onde os acordos entre as partes são amplamente discutidos dentro de um viés democrático e transparente.

Eduardo Mielke

É paranaense, doutor em turismo pela Universidade de Málaga (Espanha) e consultor da área de desenvolvimento regional através do turismo e responsabilidade socioambiental.

eduardomielke@yahoo.com.br